terça-feira, 8 de março de 2011

Another Brick in the Wall

Roger Waters já dizia. Temos de ter cuidado, ou nos tornaremos apenas mais um tijolo na parede. Banalizar, viver na rotina, assentir com a cabeça e acreditar em tudo o que lhe dizem. O rock sempre abominou isso. Porém você não precisa ter feito parte do movimento punk do fim da década de 70 para se recusar a ser apenas mais um tijolo na parede. Há muitas outras formas de expressão e crítica social além da música. E algumas tão bem-feitas, tão profundas que você mal poderia afirmar que há uma crítica ali. Mas é preciso ver além. Uma das formas de arte mais interessantes do mundo moderno é a Sétima Arte: O Cinema.

Caso lhe perguntassem qual o maior diretor de todos os tempos, o que você responderia? Martin Scorsese? Alfred Hitchcock? Clint Eastwood, talvez? Mas o que esses diretores têm em comum, além de sua arte? É fácil: São todos norte-americanos.

O cinema foi dominado pelos Estados Unidos desde sua criação na França. As maiores produções, as verdadeiras obras de arte, são em sua maioria norte-americanas. Porém, a Sétima Arte é um bem do mundo, e mesmo os campeões absolutos reconhecem isso, e a prova está na categoria do Oscar específica para tais: Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Portanto, é interessante assistir alguns dos melhores filmes de cada país. A França é conhecida por seus filmes angustiantes, melancólicos e tristes ao extremo. O Brasil, mais recentemente, por suas comédias sobre a vida cotidiana. Porém, mais interessante que explorar território conhecido, é mergulhar de cabeça em um cinema totalmente desconhecido: O Japonês.

Pode parecer piada, mas pare para pensar: O que você conhece que vem do Japão? Vamos começar pelo básico: A culinária; alguns costumes, como o de tirar o sapato dentro de casa; Os mangás e animes; Mas... O Cinema Japonês?

Sim, e saiba que um dos melhores diretores vivos é japonês. Autor de dezenas de filmes de animação e ganhador de um Oscar de Melhor Filme de Animação, Hayao Miyazaki é diretor, pintor e desenhista, além de um artista fantástico. Assistir a um de seus filmes é uma experiência inesquecível. O que a princípio parece um filme infantil, logo se mostra discutindo questões adultas disfarçadas de conflitos infantis. Principalmente porque algumas questões da nossa infância nunca desaparecem. Elas só mudam de forma. Miyazaki também nos leva a enfrentar coisas que paramos de nos perguntar quando crescemos. "O que é a morte?" ou "Porque as pessoas morrem?" são alguns exemplos. A maioria dos filmes de Miyazaki mostra a passagem da infância para a adolescência ou da adolescência para a idade adulta.

Infelizmente, a maioria dos filmes mais antigos de Miyazaki não fez muito sucesso fora do Japão, e quase nenhum no Brasil, por isso é muito difícil encontrar todos os filmes dele. Mas caso você tenha paciência em procurar na internet ou caso você entenda bem inglês, é possível encontrar algumas das obras mais antigas. Porém, seus melhores filmes fizeram muito sucesso, e esses não há dificuldade em encontrar.

Bom, então você concordou em conhecer um pouco mais desse Raio qualquer coisa. O que assistir primeiro?

Um dos filmes que mostra bem a personalidade do diretor e uma boa escolha para decidir se você vai se aprofundar no fantástico mundo de Miyazaki ou se vai pular fora é "O Castelo Animado" (Howl's Moving Castle em inglês, e uma adaptação de Miyazaki de um livro de mesmo nome). A história fala de uma jovem vendedora de chapéus chamada Sophie com uma vida não muito interessante vivendo em um país fictício (que lembra a Europa da época da revolução industrial) em guerra. Por um acaso do destino, ela acaba envolvida em uma perseguição um tanto quanto diferente das perseguições de filmes americanos, e naquela mesma noite, uma senhora vai procurá-la, revelando ser a temida Bruxa das Terras Desoladas, e a lança uma maldição que a deixa sessenta anos mais velha. Com sua nova idade, ela abandona tudo o que conhece e, vagando pelas montanhas das Terras Desoladas procurando a Bruxa, ela encontra um Castelo Ambulante e é acolhida lá. É um filme que tem um poder de te cativar rapidamente.

Se você gostou e resolveu continuar, o próximo da lista é o melhor de todos, a obra-prima de Miyazaki e aquele que ganhou um Oscar: A Viagem de Chihiro (Spirited Away em inglês). Chihiro, Uma menina mimada de dez anos que se mudou da cidade onde tinha amigos por causa do emprego do pai visita com seus pais (e contra a sua vontade) um circo antigo e abandonado. Porém, não tão abandonado assim, pois há uma barraca sem ninguém tomando conta cheia de comida da melhor qualidade. O pai e a mãe de Chihiro se acabam na comida, e a menina, de mau humor, se recusa a comer. Porém, quando anoitece, Chihiro descobre que o circo na verdade é uma cidade habitada por espíritos que toda noite saem de suas casas para visitar a gigantesca casa de banhos da bruxa Yubaba. Ela corre para avisar os pais, porém é tarde. Eles foram transformados em porcos!

A partir daí a aventura se desenrola e Chihiro tem que aprender a conviver no estranho mundo da Casa de Banhos para espíritos, com a cruel bruxa Yubaba, o rabugento Kamaji, a determinada Lin e o misterioso Haku. Trabalhando na Casa de Banhos, Chihiro terá que aprender a se virar com pouca ou nenhuma ajuda enquanto se afeiçoa aos personagens e luta para libertar seus pais. A história é cheia de significados, sendo o principal a transição da infância para a adolescência. Depois de assistir, eu posso garantir: sua opinião sobre o cinema japonês já será totalmente diferente.

Por último, antes de sair para procurar os filmes mais difíceis de serem encontrados, há mais um de fácil acesso que vale a pena assistir. É a produção mais recente de Miyazaki, Ponyo (Ponyo in the Cliff by the Sea em inglês). É um filme definitivamente mais infantil que os outros, mas mesmo assim com temas bem adultos. Ponyo é um peixe, filha de um poderoso mago que vive embaixo do mar remoendo seu ódio pela poluição que os humanos causam e planeja a destruição de toda a humanidade. Ponyo é apenas uma criança que foge de casa e acaba nas mãos de um menino chamado Sosuke, que vive em uma agitada cidade portuária japonesa. Ponyo logo cria afeição por Sosuke e vice-versa. Qual a sua tristeza, então, quando o pai de Ponyo aproveita um momento de distração e pega o peixe de volta, levando-o para o fundo do mar novamente. Porém Ponyo não desiste e, com a ajuda das suas irmãs, cria braços e pernas e foge para encontrar Sosuke de novo. Mas nessa fuga Ponyo provoca uma tempestade fortíssima que tem vários efeitos colaterais...

Depois disso, boa sorte procurando suas outras obras: "Princess Mononoke", que fala da luta dos humanos com o meio-ambiente em um Japão medieval; "A Cidade dos Gatos", um filme não inteiramente criado por Miyazaki, mas ainda assim com sua ponta de criatividade; "Porco Rosso"; "Castle in the Sky"; "My Neighbor Totoro" e muitos outros... Divirta-se conhecendo mais da cultura japonesa e deixe se encantar com a criatividade tocante de Hayao Miyazaki.


 


 


 

"All along we're just another brick in the wall"

Another Brick in the Wall (Part II)

Pink Floyd

The Wall

Columbia Records


 


 


 

3 comentários:

  1. Linda resenha sobre Miyazaki, vou repassar para meus colegas de trabalho, pq têm uns q ainda não viram os filmes dele por um certo preconceito... Valeu!

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  2. Sensacional.
    Deu vontade de sair daqui (trabalho) agora mesmo e arrumar um filme de Miyazaki para assistir. Sua capacidade como escritor é de tirar o fôlego. Um texto limpo e saboroso.
    Muito obrigada pelas dicas!
    Abraço!
    Helô

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  3. Muito legal sua resenha! Mudando um pouco de mídia, mas ficando no Japão, já leu alguma coisa do Yukio Mishima? Ele ficou muito famoso por sua tetralogia "O Mar da Fertilidade" (Hôjô no umi). Mas o primeiro romance dele, "Confissões de uma máscara" (Kamen no kokuhaku), é um bom começo pra conhecer a obra e estilo únicos do autor. Me adicione no msn: cesarf_jr@live.com podemos conversar mais sobre essas coisas.

    Mais uma vez parabéns!

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