domingo, 24 de abril de 2011

Angel Dance

Desde antes do Zeppelin, Robert Plant sempre gostou de aparecer. Fugiu de casa quando seu pai o obrigou que cortasse o cabelo. Quando adolescente, apanhava de meninos cujas namoradas enlouqueciam ao vê-lo cantar. Mas isso só inflava mais o seu ego. Afinal, que culpa tinha se era tão talentoso?

No Zeppelin, era a mesma coisa. Plant era o rosto da banda. Quando se dizia Led Zeppelin, se pensava no cantor loiro com cabelo encaracolado rebolando no palco, de peito aberto e excitado consigo mesmo (várias fotos de shows mostram Plant com uma infame ereção durante suas performances mais marcantes). Mas não era suficiente, pois embora os fãs não soubessem, a mídia e todos próximos da banda sabiam: O Zeppelin era de Page, e de ninguém mais.

Plant se sentia inferior. Um frase que entrou para os anais do Rock foi quando Plant gritou no em um hotel de Los Angeles "Eu sou um deus dourado!" (rumores dizem que ele repetiu isso no show, mais tarde, mas nada foi provado). Apesar de não saber, Page era um amigo e um rival. Quando perguntado por um jornalista sobre a obra-prima do Led Zeppelin Stairway to Heaven, Plant interrompeu o jornalista e disse: "Não, Stairway não. Kashmir é." Detalhe: Stairway to Heaven foi composta por Page, e Kashmir, por Plant.

Hoje, mais velho, menos andrógino e vestindo uma camisa, mal poderia se dizer que aquele cantor de country não era texano, muito menos que fundou o Hard Rock e fez parte de uma das bandas mais influentes dos últimos cinqüenta anos. Hoje, em contraste com um Page que mal sai de casa, Robert Plant é um nome importante na música country, faz shows pelos Estados Unidos, vende discos e compõe baladas dignas de Hank Williams. Hoje, Robert Plant reluta em falar do Zeppelin. Seria fácil especular por quê, mas julgar rápido é fácil e criticar é mais fácil ainda. O que interessa, e o que o faz realmente superior à Page hoje, é que Plant seguiu em frente. Lançou novos álbuns. Do mesmo jeito que Clapton fez com o Blues, Plant se lançou profundamente no country (Perdoem-me, Claptonmaníacos, se comparo o Deus da Guitarra com Robert Plant) e seguiu em frente. Page jamais superou a perda do Zeppelin, e seu trabalho posterior foi apenas sobre o Led e nada mais.

Mas estamos falando de Plant. Ele lançou vários álbuns, principalmente country, e de muita qualidade, porém aos quais nem eu dei muita atenção, parte por causa do meu preconceito com country e parte... Bom, era Robert Plant tentando ser caipira. Que ridículo. Porém mais uma vez meu preconceito se mostra errado, pois o último trabalho de Plant, o álbum "Band of Joy", é capaz de mudar todo o conceito de country. Com uma arte de álbum um tanto quanto confusa, "Band of Joy" é uma viagem (dessa vez, no sentido literal) de Plant pelo meio-oeste americano e pelo sul, redescobrindo o country americano. As faixas são claramente country, mas flertam com outros gêneros de jeitos nunca vistos. Em dueto com Alisson Krauss em algumas músicas, Plant passa do country dançante para o melancólico (e eu nem sabia se isso era possível) com sutileza, com faixas pesadas como "Silver Rider" e "Monkey", mais leves como "Cindy, I'll Marry You Someday" e inclusive um flerte com o gospel em "Satan Your Kingdom Must Come Down".

Um álbum original, apesar do que parece, e muito bom de escutar. Longe de redimir Plant pelos seus atos pós-Zeppelin, mas é importante separar o homem da obra. Podemos dizer que, sem o narcisismo, Robert Plant é um ótimo artista.





"And They'll laugh up and down the hall

Don't go shout when you hear them fall"

Angel Dance

Robert Plant

Band of Joy

Es Paranza (Decca Records)

Nenhum comentário:

Postar um comentário