domingo, 17 de julho de 2011

In the Light

Algumas cidades nunca dormem. Ao anoitecer, suas luzes artificiais se acendem, e lembram os pobres coitados que se espremem nela e fingem que tem uma vida de que eles jamais estão sozinhos. Não importa onde eles estão, não importa aonde eles vão ou o que pensem, eles vão estar na companhia das onipresentes luzes da cidade, trazendo conforto, segurança e também uma dose considerável de paranóia.

Mas luzes não protegem ninguém. Uma falsa sensação de segurança se instala no indivíduo iluminado e ele se sente no direito de caminhar pela sua cidade, com uma ilusão de posse. Depois, quando algo de ruim acontece embaixo das onipresentes luzes, o indivíduo se lamenta, joga a culpa na má administração do local e volta para casa, o orgulho ferido e uma lição aprendida. E as luzes? As luzes assistiram a tudo, mas nada fizeram para impedir o assalto, a agressão ou a morte.

Sejam luzes ou outros edifícios e utilidades públicas, tais objetos viram mais do que qualquer um deveria. A bem da verdade, esses objetos dariam ótimos escritores e contadores de histórias. Se deixe imaginar: Quantas histórias de amor um telefone público já não presenciou? Quantas histórias de suspense um beco escuro poderia contar? Um ônibus de transporte público já presenciou tantos assaltos que nem deve ter mais vontade de viver. Porém as luzes, com seu brilho tão artificial e tão superestimado, são as que mais sofrem.

Inúteis. Luzes inúteis, essas que oferecem uma sensação de proteção, mas sem proteção de fato. E, ainda assim, que falta fazem quando se apagam! Instala-se o pandemônio, cadê a luz, meu deus, cadê a luz? As pessoas se desesperam sem saber que, com ou sem luz, não faz nenhuma diferença. Porém o medo é palpável, e os maus intencionados, esses sim, se sentem seguros para agir.

Estatísticas provam (?) que sessenta por cento da população mundial nunca viu um céu estrelado. As luzes elétricas ofuscam as verdadeiras luzes, as estrelas. Luzes que estiveram sempre com o ser humano, vários minúsculos pontos iluminados ao redor da enorme lâmpada meio-iluminada que é a Lua. Com o passar dos séculos, a humanidade passou a contar com meios próprios de se sentirem seguros durante a noite. Criaram suas próprias estrelas, que se acendiam e se apagavam a seu bel-prazer... E lhes davam a sensação de poder.

Mas, ainda hoje, experimente... Desligue as luzes, só por um instante, vá para a sua varanda, olhe da sua janela... E aprecie o céu e a Lua.

Por que, quando todas as luzes se apagam... Outras se acendem.


 


 


 

"In the Light... You will find a road..."

In the Light

Led Zeppelin

Physical Graffiti

Swan Song Records (Atlantic Records)


 

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