sábado, 8 de outubro de 2011

Loucura

John, I'm only dancing, she turns me on, but I'm only dancing…

A mente humana é profundamente perturbada. Alguns escondem isso perfeitamente. Tão perfeitamente que quando vivem suas vidas tidas como normais e quando se encaixam perfeitamente na complexa máquina pulsante que é a sociedade, quando estão na sua zona de conforto, acreditam que estão a salvo do mundo lá fora. Mas portas e trancas não protegem ninguém de seus demônios internos. E já que esses te seguirão para o resto da vida, que remédio, senão a morte?

Ah, sim, pois esconder a loucura é apenas adiar o inevitável, e fugir de si próprio sempre culmina com um fim trágico? O suicido, o assassinato, a seqüência vertiginosa de acontecimentos no fim de uma história, seja ela real ou ficção, famosa ou desconhecida, traz alívio à alma alheia. A mente perturbada se recusa a parar de correr, sem perceber que apenas se afunda mais ainda. Aí sim, quando todas as opções acabam, o indivíduo contempla a morte, e a acolhe relutante.

Os idealistas dirão que o suicídio é um absurdo, e que é um ato de egoísmo extremo, e que qualquer suicida pode ser facilmente convencido disso. Mas matar-se é apenas uma solução para aqueles que escondem e reprimem (há diferença?) sua loucura em um buraco tão fundo que conseguem fingir que não está lá. Depois brinca com a idéia da morte e não sabe por quê. Se quiser matar, mata-te. Ninguém sentirá a tua falta.

Não, pessoalmente não considero me matar. Não por medo de morrer, mas por curiosidade de viver.

Agora, há aqueles que sabem exatamente onde seus demônios estão. Estes são os que mais sofrem. Eles fixam sua atenção nesses problemas, e na sua luta para se adaptar, evitam qualquer coisa que os lembre que há algo se revirando, gritando e corroendo dentro de si mesmos. Não, não é uma prática saudável. Mas pelo menos estes estão cientes da existência de algo mais, mesmo que se recusem a admitir. Eles lutam ferrenhamente para manter a loucura enclausurada e encurralada, e às vezes conseguem. Eles passam pela vida, e se tornam homens e mulheres respeitáveis, com poucas manchas e muito sucesso na vida. Ao ver da besta que é o convívio social, eles são um exemplo a ser seguido. Ah, se soubessem a dor que passam! Um arrependimento, uma decisão mal-feita. Esses indivíduos dariam tudo, dinheiro, posição e respeito para poder voltar no tempo e refazer uma escolha. Mas a vida não dá segundas chances, e quando estes indivíduos quase sábios percebem um beco sem saída à distância, param de correr. Andam bem devagar, escondem e controlam a loucura, mas não desviam de caminho. Andam lentamente para o beco sem saída, para a enorme parede, e sabem que o fazem. Vêem as conseqüências da decisão tomada há muito tempo atrás, lamentam essa escolha, e continuam andando, lentamente, como se pudessem adiar o fim. E então o fim chega, e a sociedade suspira consigo mesma: "Mais um trabalho bem feito". E ninguém suspeita de nada, e o indivíduo leva essa dor angustiante para a sepultura.

Mas há esperança na humanidade...

Há aquela mente única, aquela que se destaca na multidão. Aquela que conhece sua dor como uma amiga, e que a exprime em forma de arte, e a exprime para o entretenimento alheio, e essas mentes únicas são chamadas de insanas, de perturbadas, apenas por que dizem em voz alta o que todos estão pensando, saibam eles disso ou não. Essa mente única pode até não compreender sua loucura, mas entende que há algo dentro dela querendo sair. E ao invés de esconder e reprimir, a mente única deixa a dor e a loucura saírem de mãos dadas. E que coisas maravilhosas ela pode realizar! Passa a ser apenas uma loucura esclarecida, algo que dá ao poeta a vontade de escrever e ao escultor a vontade de esculpir. E essa mente única, quando vê o beco sem saída se aproximando, não hesita: Derruba a parede inteira.


 

"O importante da arte é exprimir; o que se exprime não interessa."

Fernando Pessoa


 


 

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